Grandes Clássicos do Nosso Cancioneiro Popular (2): Deixa eu Te Amar

Há vinte e sete anos era lançado o álbum Mistura Brasileira, do cantor e compositor Agepê. Vendeu um milhão e meio de cópias. Tamanho sucesso se deve em grande medida a um clássico de nosso cancioneiro: o samba Deixa eu Te Amar. Trata-se de um clássico por vários motivos. Começando pelo arrebatador refrão que inspira o título da música: Deixa eu te amar! Faz de conta que sou o primeiro. Simplesmente sensacional! Passando por versos carregados de lirismo, sentimentalismo, figuras femininas idealizadas e alusões à natureza, ou seja, um autêntico poema romântico. Vejam se não tenho razão:

Aí, então, vou te amar com sede,

Na relva, na rede, onde você quiser.

Quero te pegar no colo,

Te deitar no solo e te fazer mulher

Ainda viverei para ver Agepê nos livros de Literatura ao lado de seus pares Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo e Castro Alves. Ainda farão recitais de poesia em que Deixa eu Te Amar será apresentada como obra representativa e fundadora de uma espécie de quarta geração do romantismo brasileiro.

Não menos importante é a interpretação primorosa de Agepê, que também é co-autor da obra-prima. Nela toda a sonoridade e a musicalidade da poesia inundam nossos ouvidos e nos transportam para o ambiente etéreo e bucólico descrito pelo, por que não dizê-lo, poeta Agepê.

Leiam a letra e ouçam a música.

Capa do álbum Mistura Brasileira de 1984

Deixa eu Te Amar (Agepê – Vamilo – Mauro Silva)

Quero ir na fonte do teu ser
E banhar-me na tua pureza;
Guardar em pote gotas de felicidade,
Matar saudade que ainda existe em mim.
Afagar teus cabelos molhados
Pelo orvalho que a natureza rega,
Com a sutileza que lhe fez a perfeição,
Deixando a certeza de amor no coração.
Deixa eu te amar!
Faz de conta que sou o primeiro.
Na beleza desse teu olhar
Eu quero estar o tempo inteiro.
Quero saciar a minha sede
No desejo da paixão que me alucina.
Vou me embrenhar nessa mata só porque
Existe uma cascata que tem água cristalina,
Aí, então, vou te amar com sede,
Na relva, na rede, onde você quiser.
Quero te pegar no colo,
Te deitar no solo e te fazer mulher.
Quero te pegar no colo,
Te deitar no solo e te fazer mulher.
Deixa eu te amar!
Faz de conta que sou o primeiro.
Na beleza desse teu olhar
Eu quero estar o tempo inteiro.

Agepê na capa da edição n. 908 da Revista Veja

Veja a postagem anterior da série Grandes Clássicos do Nosso Cancioneiro Popular: Fuscão Preto