segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A Profecia

Na minha modesta opinião Nélson Rodrigues é o maior cronista de futebol de todos os tempos. E era genial mesmo sendo parcial. Na verdade, acho que era genial justamente por ser parcial. Nunca escondeu seu amor pelo Fluminense.

De sua imaginação brotaram personagens que ainda hoje povoam o folclore do futebol brasileiro. Os mais conhecidos sem dúvida são o Gravatinha, que vem do além para prestigiar as vitórias tricolores, e o Sobrenatural de Almeida, sempre disposto a mudar a sorte de uma partida lançando mão do imponderável.

Mas não é deles que eu quero falar. Ontem, após a vitória do Fluminense, fui dormir e sonhei com outro personagem de Nélson Rodrigues: o Profeta. Sentado no meio-fio, vestido com seus trapos, ele coçava suas sarnas com um cartão telefônico em frente ao Supermercado Princesa da Rua das Laranjeiras, na altura da Rua General Glicério.

Profeta: Incrédulo! Homem de pouca fé!
Eu: É comigo?
Profeta: Sim. Por que não acredita?
Eu: Em quê?
Profeta: Você sabe ...
Eu: São cinco pontos de diferença para o líder e apenas duas rodadas a disputar.
Profeta: Pois eu digo, o Fluminense será o campeão brasileiro de 2011.
Eu: Mas como? Se não tivéssemos perdido para o América em casa ...
Profeta: Fred está iluminado, Deco tem lembrado Gérson. O Flu ganhará os dois clássicos e o Corinthians vai afinar. Perderá para o Figueirense e empatará com o Palmeiras.
Eu: Tem certeza?
Profeta: Não me chamam de profeta por acaso. Fluminense bicampeão brasileiro!
Eu: O 583 está vindo, até mais.

Entrei no ônibus e de lá acenei para o Profeta, que a esta altura já havia atravessado a rua para jogar no bicho. Enquanto eu me afastava ele efusivamente gritou: Fluminense campeão brasileiro de 2011!

Já estava escrito há seis mil anos antes do nada.

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